Coluna IRanimA

Aqui escrevem colaboradores IRanimA - www.iranima.net 2ª Feira - Roxanne W. 3ª Feira - Daniel Lourinho Campos 4ª Feira - Ana Fernandes 5ª Feira - Maria José Martins 6ª Feira - Maria Augusta Sábado - Zalberto Rato

sexta-feira, janeiro 19, 2007


Regresso de uma viagem sem cor...sem paisagens bonitas, montanhas geladas ou praias paradisíacas...
Volto sim de uma viagem ao mundo da dor, e ao centro de mim.
Acumulados na bagagem, ainda por desfazer, trago três meses de dias e noites a deambular por um quarto, onde a impotência e a revolta se debatiam em combates ferozes, com uma agonia sem fim...
Como ser humano, não sei se regresso mais rica ou mais pobre...sei apenas que voltei diferente, e que a cada dia que passa ,me questiono mais sobre o sentido da vida...
As malas essas vou deixá-las ainda um longo tempo por desfazer...quem sabe se o tempo , esse velho chamado tempo , se encarrega delas...


Regresso
nas águas diáfanas
de uma cascata

No
brilho gasto de
uns olhos cansados

Num
sorriso débil
que tento alcançar

Nos
passos por esboçar
em trilhos já gastos

Regresso!...

Mas, se regresso, é porque renasço
Nas saudades do teu abraço
Neste dia em que nasço
Pela primeira vez...sem ti pai...

terça-feira, janeiro 16, 2007


o meu coração é como um guarda-chuva que já foi demasiadas vezes aberto e fechado, molhado, encharcado e seco vezes sem conta...
o meu coração é como um gurada-chuva de varetas voltadas e revoltadas pela acção do vento...
o meu coração é como um guarda-chuva esquecido num aeroporto pois não se agarrou ao resto da bagagem a tempo...
o meu coração é como um guarda-chuva esburacado, descosido ou simplemente meio torto de tanto uso...
o meu coração é como um guarda chuva que com as mãos despedaço...primeiro pela costura, depois por qualquer lado...
o meu coração é um guarda-chuva em pedaços que com as mãos em sangue volto a atar com intenção de voltar atrás...
o meu coração é um guarda-chuva atado às varetas, meio torto, esburacado... queres?

domingo, janeiro 14, 2007

Segredos escondidos de mim mesmo
suicídios de minha mente deserta,
falsas memórias que em vão procuro
nos subúrbios esconderijos em parte incerta...

Vivo sem saber quem sou,
morro sem saber quem fui,
que do sangue
que corre em meus pulsos
uma última gota se suicida
e a história sobre mim contada
será mais uma mentira...

segunda-feira, janeiro 08, 2007



todos nós temos cá dentro uma meia de fantoche...
somos simples como um fantoche e tantas são as vezes que nos deixamos manipular...
somos tão fantoches que por inércia ou simplesmente por sermos apegados à preguiça nos limitamos a abrir e a fechar a boca ora por termos sono, ora para a deixar ser ocupada pelas palavras dos outros!!!
todos temos um cabelo colorido, uns olhos esbugalhados e uma língua vermelha como se tivessemos acabado de comer um pinta línguas!
à minha volta outros tantos fantoches na mão de outros quaisquer...
todos somos uma meia de fantoche...mas daquelas meias chungas com uma raquete, brancas de preferência (que usamos com sapatos e fato de treino)...
sento-me numa cadeira de verga e deixo-me ser vestida com uma meia de fantoche...branca, incómoda que me provoca alergia e brotoeja na pele...
como a vontade está despida de mim ali fico eu inerte a ser manietada pelas perturbações dos outros a fazer cara de sapo cocas, com os olhos esbugalhados e a boca retorcida....
de quando em vês levanto-me de rompante e descalço-me da meia que já fui...atiro-a ao chão, espezinho-a e retomo o controlo do corpo e do falso sorriso...
todos nós temos cá dentro uma meia de fantoche...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Incoerência

Se, se acende em mim o desejo...
De, que é urgente escrever!
De, que é urgente pintar!
Porque deixo então, que os dias me escorram, por entre os dedos!?
E me entrego , ao entorpecimento que me invade!...

Incólume ao tempo
Cresce em mim a inércia.
Apaga-se em mim o desejo
E foge de mim essa vontade...

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Rudy embarcou num comboio sem destino, que já ia a meio caminho do seu ignoto fim. Mas Rudy não quer chegar lá. Não, Rudy não quer chegar a lado nenhum. Ele precisa é de tempo, ele precisa é do tempo: do tempo que nunca teve para viver, do tempo que nunca teve para amar, do fero e áspero Tempo que, embora se avolume inexoravelmente num infindável suceder de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos, nunca lhe deu tempo - a ele, Rudy - para viver.
Rudy não entende como nunca amou. Rudy não percebe como nunca viveu. Segue sozinho - mas sempre acompanhado pela sua ignorância e pela modorra que o invade e lhe tolhe os impulsos vitais - na carruagem da terceira classe. E segue só porque todas as outras pessoas estão um ou dois passos à frente dele, uma ou duas classes acima, em vagões confortáveis e modernos, em vidas completas e felizes...
"Porquê?", pergunta-se Rudy, "Porquê?". Será por ser gordo? Será por ser feio? Será por não ter tentado o suficiente? Será por ter tentado demais? Rudy precisa de tempo, daquele tempo que sempre esbanjou sem nunca ter. Precisa de tempo para viver. Precisa de tempo para procurar respostas, para solucionar o enigma da sua vida. E, por isso, Rudy segue sozinho naquele comboio sem rumo nem destino - não pela ânsia de saber o que está no término da linha, mas pela sofreguidão de descobrir o que ficou para trás, de vislumbrar e viver aquele doce segredo do mundo no qual só ele nunca reparou, no qual só ele nunca almejou agarrar...
Rudy pensava que todas as coisas boas da vida acabavam por encontrar, com naturalidade, aqueles que por elas sabiam esperar. Mas, recentemente, Rudy descobriu que essas coisas boas podem chegar demasiado tarde... É tarde, já é tarde para ele! E o comboio corre célere, num perpétuo movimento eléctrico e mórbido.
Subitamente, Rudy sentiu todos os assentos vazios, todas as janelas embaciadas, todas as juntas metálicas e todas aquelas envolvências inertes a acossá-lo em uníssino:
"Em toda a tua vida, em todos estes anos,
Nunca viveste, nunca amaste!
Apaga a luz, porque os teus sonhos são negros
Como o azeviche que dá cor às tuas lágrimas!
Que conselho sensato estás à espera de ouvir?
Será melhor esperar por ele? Ou será melhor viver?
Aprende a ganhar controlo!
Aprende a viver a tua vida!
Aprende a sonhar o teu sonho!
Aprende a lutar pela tua demanda!
Tens que sair desse infinito torpor
Para descobrires o sentido da vida,
Para apreciares o sabor do amor!"
Por entre inintelígiveis sons que insistiam em atiçar Rudy, o comboio chegou, enfim, ao término da sua jornada. Rudy saiu da carruagem, ainda cambaleante, ainda atordoado. A retrospectiva da sua desditosa vida arrebatou-o, fê-lo pensar. Mas Rudy sabia que não mudaria nada na vida dele nele. Rudy sabe que, mal o comboio regresse, voltará a seguir viagem nele, num nefasto ciclo vicioso que o corrói por dentro, que o mata a cada passo, a cada zunido dos gonzos das carruagens. Não há escapatória: e o funesto som da carruagem já se faz ouvir, ao longe, como se viesse dos confins do mais dantesco pesadelo, a que Rudy chama vida...

segunda-feira, dezembro 25, 2006



Conto de natal
rosto encarquilhado, pele gretada e lábios sovados por múltiplas mãos. corpo lânguido que ginga constantemente e sabe fingir ter prazer de cor...
os olhos amendoados e encovados que já possuiram um brilho curioso de criança, e que agora se viam desgastados de tanta procura encontrada nos olhos dos outros...
as axilas e virilhas para além da pele seca e tanta vez escovada em vão, já não tinham o seu cheiro, mas sim o do suor dos milhares de corpos que estiveram em cima de si.... a sua vagina que agora ja perdera a elasticidade e a vontade de fazer o máximo de dinheiro possivel para a próxima dose permanecia na posição de "aberta 24h" sem descanso da empregada, como se fosse uma loja de conveniência... ela era uma loja de conveniência onde se deposita o esperma, se finge que recebe carinho e se leva uma leveza no espírito e nos testículos...
os cigarros são a única consolação do dia depois de cada coito fingido e da constante sensação de cortiça na boca (que provêm do constante mastigar de pastilha para disfarçar o sabor do enjoo e do nojo de si própria).
de sorriso colado à cara, que já não disfarça a doença, não é a primeira vez que é espancada... ali não é lugar para choros ou birras e o hábito do corpo sovado já não a deixa derramar uma lágrima... nem o facto de ser anã lhe poupou alguma vez os maus tratos, pelo contrário, despertou sempre nos homens uma maior brutalidade e sentido de superioridade, e nos pedófilos a sensação te foder uma criança e uma mulher ao mesmo tempo...
Mulher da vida, mulher perdida, ladra, puta, poço de doenças e de poucas virtudes, cabra, toxicodependente, drogada são alguns dos nomes que assina como já sendo seus.
de cara vermelha e boca ensanguentada depois do murro no queixo, e ainda a olhar para o chão, vomita algumas palavras para o seu cliente:
- são os 20 euros do costume!
o enfezado de barbas pútridas e calças duras do peso de tanta sujidade e transpiração entrelaçadas no tecido, dentes amarelos e podres, e um olhar esgazeado pela solidão, pelo raiar da morte e pela intempérie da loucura cuspiu-lhe a resposta:
- deves ainda estar convencida de que o pai natal existe...
saiu daquela cova que o mundo finge que não existe e bateu a porta num estrondo.

segunda-feira, dezembro 18, 2006


um suspiro que me consome por dentro... as entranhas revolvem-se e dão nós de ansiedade! não sei o que fazer, porque fazer, como fazer...mas sei que tenho que fazer qualquer coisa... há um desespero... há um sufoco que me paralisa os membros e o raciocínio...não escrevo mais...

domingo, dezembro 17, 2006

Outubro, Novembro, Dezembro. Três meses de actividade e foi preciso estar perto de concluir o primeiro trimestre para a IRanimA ganhar a confiança de alguns parceiros estratégicos que podem vir a ser importantes para o crescimento e solidificação desta marca que se quer de apoio aos novos talentos. Durante estes três dedicámo-nos quase por inteiro ao mundo literário e demos apenas alguns minutos ao meio artistico e musical, pelo que nos próximo trimestre esta será a nossa aposta mais dinâmica, de modo a equilibrar as actividades conduzidas pela IRanimA.
Neste momento, novos talentos literários têm a possibilidade de divulgar as suas obras, que na maior parte das vezes ficam escondidas do público comum, através da nossa prateleira virtual e comercializá-las a partir da nossa livraria ambulante e da nossa loja online, que a partir de terça-feira terá uma nova imagem com carrinho de compras e dividida em secções. Também a partir da prateleira virtual, novos talentos podem divulgar as suas obras ainda não publicadas junto de editores e futuros leitores interessados. A nível literário está ainda a ser desenvolvido o projecto de prémio literário e a comercialização de cursos de escrita ao domicílio prestado pela nossa mais recente parceria - Reticências [Creative Shop] -, bem como continuarão em campo os projectos de Compilações IRanimA e da Coluna de Textos, onde alguns dos novos escritores de amanhã terão oportunidade de começar a mostrar os seus trabalhos. A nível literário prossegue ainda o projecto Factor 40, que vai colocar alunos do secundário a escrever um livro, e na mesma onda de pensamento vai ser criado um projecto idêntico para uma compilação de textos de poesia e contos de reclusos portugueses.
As compilações são uma aposta da IRanimA, não só a nível literário, mas também no campo musical, que mal tenhamos acordo selado com a produtora com quem temos desenvolvido conversações, trará muitas novidades aos novos talentos musicais, quer com a criação das compilações, quer com a criação do prémio "O meu primeiro álbum". Também a loja online apostará na venda de álbuns destes novos talentos, no mesmo registo do que tem feito com os livros. O agendamento de espectáculos é outra das apostas que temos em mente para o início do próximo ano, no trabalho comnovas bandas e artistas.
Os novos talentos das artes plásticas, terão também a possibilidade de juntar à sala de exposições virtual, a oportunidade de exporem em associações e espaços culturais com os quais temos desenvolvido algumas conversações e de tomarem conhecimento de alguns concursos destinados ao seu tipo de trabalhos.
No apoio a novos talentos, há ainda as seguintes novidades:
- O projecto Q10 desenvolvido entre a IRanimA e o Portal dos Novos Talentos - um portal de Joana Cristal a ser inaugurado a partir do dia 15 de Janeiro
- A parceria com a editora alternativa IN CULTO - que entregou todo o trabalho de coordenação e selecção literária à IRanimA.
- Cursos de Fotografia
- Concursos Culturais
- Produções e Ideias IRanimA
- Palestras IRanimA
Para o início de 2007, e apesar das dificuldades em manter de pé o projecto, temos total confiança de que estas novas parcerias nos vão ajudar a ganhar um espaço próprio no panorama cultural nacional, bem como não tenho dúvidas de que muitos daqueles que recorrem aos nossos projectos não só não se vão arrepender de o ter feito, bem como estou certo que desse leque de novos talentos sairão alguns dos melhores artistas de amanhã.
"Hoje, os novos talentos são a nossa aposta. Amanhã, serão património de todos"

sexta-feira, dezembro 15, 2006


E o tempo, não me deu tempo

Do tempo, que precisei

Ao tempo, eu peço, o tempo

Do tempo, em que sonhei...