Coluna IRanimA

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segunda-feira, dezembro 25, 2006



Conto de natal
rosto encarquilhado, pele gretada e lábios sovados por múltiplas mãos. corpo lânguido que ginga constantemente e sabe fingir ter prazer de cor...
os olhos amendoados e encovados que já possuiram um brilho curioso de criança, e que agora se viam desgastados de tanta procura encontrada nos olhos dos outros...
as axilas e virilhas para além da pele seca e tanta vez escovada em vão, já não tinham o seu cheiro, mas sim o do suor dos milhares de corpos que estiveram em cima de si.... a sua vagina que agora ja perdera a elasticidade e a vontade de fazer o máximo de dinheiro possivel para a próxima dose permanecia na posição de "aberta 24h" sem descanso da empregada, como se fosse uma loja de conveniência... ela era uma loja de conveniência onde se deposita o esperma, se finge que recebe carinho e se leva uma leveza no espírito e nos testículos...
os cigarros são a única consolação do dia depois de cada coito fingido e da constante sensação de cortiça na boca (que provêm do constante mastigar de pastilha para disfarçar o sabor do enjoo e do nojo de si própria).
de sorriso colado à cara, que já não disfarça a doença, não é a primeira vez que é espancada... ali não é lugar para choros ou birras e o hábito do corpo sovado já não a deixa derramar uma lágrima... nem o facto de ser anã lhe poupou alguma vez os maus tratos, pelo contrário, despertou sempre nos homens uma maior brutalidade e sentido de superioridade, e nos pedófilos a sensação te foder uma criança e uma mulher ao mesmo tempo...
Mulher da vida, mulher perdida, ladra, puta, poço de doenças e de poucas virtudes, cabra, toxicodependente, drogada são alguns dos nomes que assina como já sendo seus.
de cara vermelha e boca ensanguentada depois do murro no queixo, e ainda a olhar para o chão, vomita algumas palavras para o seu cliente:
- são os 20 euros do costume!
o enfezado de barbas pútridas e calças duras do peso de tanta sujidade e transpiração entrelaçadas no tecido, dentes amarelos e podres, e um olhar esgazeado pela solidão, pelo raiar da morte e pela intempérie da loucura cuspiu-lhe a resposta:
- deves ainda estar convencida de que o pai natal existe...
saiu daquela cova que o mundo finge que não existe e bateu a porta num estrondo.

2 Comments:

Blogger Paz Kardo said...

Numa palavra apenas: Sensacional!

Uma vénia...

7:00 da tarde  
Blogger Roxanne W. said...

merci merci...chega de aplausos e tal...pronto pronto...não e preciso tanto...obrigada obrigada... ;)

10:03 da manhã  

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