Cheguei a casa e pousei a mala em cima da mesa de entrada, e as chaves que trazia na mão. Pendurei o casaco no bengaleiro em forma de arabesco da entrada. Fui à sala, liguei a tv e voltei a desliga-la. Decidi inovar, liguei o rádio, aumentei o volume e dirigi-me à casa de banho.
Pus a água quente a correr. Despi-me vagarosamente, ao sabor de um strip para mim mesma cadenciado pela música.
Os sapatos a dar de si, a camisola a cheirar a fumo, a t-shirt a cheirar a suor, as calças encharcadas pela chuva, as meias coçadas pelo uso… amontoei tudo desorganizadamente, numa mistura de texturas e cores, vazios da forma redonda que os habitara anteriormente…tal como uma cobra que camada a camada se vê livre daquele padrão que a definiu até ali. Precisava esfregar-me bem, tirar da pele o dia do costume, as conversas do costume, o arrastar do costume…
Entrei na banheira e deixei-me estar ali, de molho, como se fosse a roupa que atirara para o canto, perto da porta…
Fiquei mergulhada, de cabeça de fora de água mas de cabelos a flutuar… a ouvir a música que ecoava pela casa nua. Fechei os olhos. Aquela água quente encarquilhou-me os dedos e enrugou-me as ideias, queimou os pensamentos de um dia idiota, feito do habitual fingimento de produtividade. Esfreguei-me bem, chegando até a arranhar-me, com medo que aquela inércia fosse absorvida pelo corpo e tal como o dia me tornasse amorfa. Fiz sangue, deixei-o correr um pouco e depois vi-o espraiar-se pela água feito peste. Puxei a tampa do ralo e levantei-me…e a transparência branca da banheira tornou-se vagarosamente num vermelho diluído, modorrento e depois, já perto do fim ganhou velocidade e escorreu pela garganta cano abaixo.
Voltei a abrir a água, desta vez o chuveiro. Sentei-me “à chinês” debaixo daquele jacto quente que me chegava a avermelhar as costas. Senti a pele ser massacrada com cada murro de água que saía aos repelões do chuveiro com uma pressão imensa…os cabelos colados á cara formavam um escorrega perfeito…o vapor…um nevoeiro intenso…
Deixei-me ficar assim uns minutos…
A minha cabeça estava de tal forma misturada com aquela jorrada de litros de água e atitude que deixei de ouvir a música que havia posto na sala, passei só a ouvir a tonelada de cada gota e de cada salpico na minha nuca que por sua vez ia habitar os ombros e espraiar-se pelo peito, barriga, coxas, banheira, ralo, tubo, cifão…
Fechei a torneira. Ainda sentada fiquei ali (meio em transe) a ouvir a ausência daquela cadência de gotas agressivas…
Pouco a pouco voltei a ouvir o rádio “(...) And you cant fight the tears that ain't coming, Or the moment of the truth in your lies.When everything feels like the movies,Yeah you bleed just to know you're alive(...)”. A minha pele arrepiou-se, talvez pela pele que estava colada à minha ter desaparecido com a água...
Pele...pele inventada...agarrada ao céu da boca pelos comentários quotidianos, os gestos quotidianos de quem não sente, apenas sabe de cor a coreografia…
Pus a água quente a correr. Despi-me vagarosamente, ao sabor de um strip para mim mesma cadenciado pela música.
Os sapatos a dar de si, a camisola a cheirar a fumo, a t-shirt a cheirar a suor, as calças encharcadas pela chuva, as meias coçadas pelo uso… amontoei tudo desorganizadamente, numa mistura de texturas e cores, vazios da forma redonda que os habitara anteriormente…tal como uma cobra que camada a camada se vê livre daquele padrão que a definiu até ali. Precisava esfregar-me bem, tirar da pele o dia do costume, as conversas do costume, o arrastar do costume…
Entrei na banheira e deixei-me estar ali, de molho, como se fosse a roupa que atirara para o canto, perto da porta…
Fiquei mergulhada, de cabeça de fora de água mas de cabelos a flutuar… a ouvir a música que ecoava pela casa nua. Fechei os olhos. Aquela água quente encarquilhou-me os dedos e enrugou-me as ideias, queimou os pensamentos de um dia idiota, feito do habitual fingimento de produtividade. Esfreguei-me bem, chegando até a arranhar-me, com medo que aquela inércia fosse absorvida pelo corpo e tal como o dia me tornasse amorfa. Fiz sangue, deixei-o correr um pouco e depois vi-o espraiar-se pela água feito peste. Puxei a tampa do ralo e levantei-me…e a transparência branca da banheira tornou-se vagarosamente num vermelho diluído, modorrento e depois, já perto do fim ganhou velocidade e escorreu pela garganta cano abaixo.
Voltei a abrir a água, desta vez o chuveiro. Sentei-me “à chinês” debaixo daquele jacto quente que me chegava a avermelhar as costas. Senti a pele ser massacrada com cada murro de água que saía aos repelões do chuveiro com uma pressão imensa…os cabelos colados á cara formavam um escorrega perfeito…o vapor…um nevoeiro intenso…
Deixei-me ficar assim uns minutos…
A minha cabeça estava de tal forma misturada com aquela jorrada de litros de água e atitude que deixei de ouvir a música que havia posto na sala, passei só a ouvir a tonelada de cada gota e de cada salpico na minha nuca que por sua vez ia habitar os ombros e espraiar-se pelo peito, barriga, coxas, banheira, ralo, tubo, cifão…
Fechei a torneira. Ainda sentada fiquei ali (meio em transe) a ouvir a ausência daquela cadência de gotas agressivas…
Pouco a pouco voltei a ouvir o rádio “(...) And you cant fight the tears that ain't coming, Or the moment of the truth in your lies.When everything feels like the movies,Yeah you bleed just to know you're alive(...)”. A minha pele arrepiou-se, talvez pela pele que estava colada à minha ter desaparecido com a água...
Pele...pele inventada...agarrada ao céu da boca pelos comentários quotidianos, os gestos quotidianos de quem não sente, apenas sabe de cor a coreografia…
9 Comments:
Bem, vou-te contar... Acho que estamos perante um texto sublime... Espero que não estivesses a falar do dia de Domingo :)
obrigado meu caro gi...ups...paz kardo!de certeza que não me referia a domingo, uma vez que nesse dia ja tinha prometido a mim mesma evitar o ritmo do "como sempre" e porque "foi sempre assim"!
quanto a ser sublime...talvez esteja na fase do sub uma vez que há ainda que limar muito!!! ;)
falei hoje com o gi pelo mns e contei-lhe das tuas suspeitas de que eu era ele... acho que ele vai fazer com que tenhas uma visão durante a noite para tirares essa ideia da cabeça... cuidado! Ao que parece o gi tem poderes estranhos :)
Vocês ainda não perceberam que eu é que sou o Gi Ego!...
paz (gi) dai ter sonhado com uma pessoa com a lingua bífida...
e mais devo expressar aqui o meu desejo de talvez no proximo post fazer especulações sobre o gi ego...
obrigado...queria msm passar sensações...ainda bem que consegui chegar até ti! obrigado pelo comentario
(este comentário é só mesmo para se atingir a magnitude da dezena de comentários! este texto merece... será que a autora dele também o merece? :P)
já que é esse o objectivo...a autora agradece...mas chora muito e deslavadamente em relação a ter sido posta em causa..........buá...e sai ranho e tal....buááááááá........
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